domingo, 20 de julho de 2025

Flávio Dutka: a versatilidade criativa de um artista múltiplo

 

FLAVIO DUTKA é um artista que extrapola os limites da tela. Com um acervo riquíssimo nas artes plásticas, sua obra dialoga intensamente com o cotidiano, o simbólico e o ritual do gesto. Mas é fora da tela tradicional — nos livros, nas revistas, nos CDs, nos folders — que Dutka revela outra faceta de sua força criativa: a de ilustrador sensível e multifacetado.

Podemos dizer que quando se fala em versatilidade nas artes visuais, poucos nomes ilustram tão bem essa característica quanto o do artista plástico Flávio Dutka. Reconhecido por seu expressivo acervo nas artes plásticas, Dutka também se destaca por uma trajetória consolidada no universo da ilustração, transbordando talento em múltiplas linguagens e suportes.

Além das exposições consagradas e séries artísticas que dialogam com temas amazônicos, culturais e existenciais, Dutka acumula uma sólida produção como ilustrador, colaborando com livros, revistas, capas de CDs e materiais gráficos diversos.

Na literatura infantil, Dutka transforma palavras em imagens com delicadeza e potência. Sua atuação como ilustrador em livros infantis mostra um olhar lúdico e profundo, presente em obras como A farinhada lá na casa de José, de Auxiliadora dos Santos Pinto; Escrevivências - Na Amazônia Encantada, da autora Eva da Silva Alves;  Não fuja da Coruja, de Miguel Neneve,entre outros. A sensibilidade das ilustrações contribui para tornar a leitura mais lúdica e encantadora, dialogando com crianças e adultos.

Sua atuação se estende também para livros acadêmicos e culturais. Flávio Dutka ilustrou obras como Cultura Indígena, Ciência e Arte e Geografia da Re-Existência, ambas de Gustavo Gurgel do Amaral; Mito e Identidade em Nazaré, de Simone Norberto onde os traços invocam memória e ancestralidade; Tambor de Choro, de Marta Valéria de Lima e Nilza Menezes; Nossa Terra em Outras Terras  - trazendo à vida os descendentes eslavos da zona da mata rondoniense., de Jania Maria de Paula; e Na Beira das Matas (Poemas Diversos), de Gustavo Abreu. Cada projeto carrega a marca inconfundível de Dutka: a harmonia entre conteúdo textual e expressividade visual.

No campo editorial, seu talento também está presente em diversas revistas. É o caso da Revista da Emeron (nº 26 de 2019) e edições da Revista Presença Geográfica dos anos de 2014, 2015, 2017 e 2018. Em todas, sua arte contribuiu para enriquecer visualmente publicações de grande relevância acadêmica e cultural.

Na música, Dutka imprime sua identidade visual em capas de CDs, como Bem-vindo ao Pacífico, de Arikeme; Entortando o Clichê, da banda Soda Acútica; Made in Coração e Simples Assim, de Marfiza; Sons de Beira, de Bira Lourenço e Catatau Batera; e Os Últimos (Até onde toca o Horizonte).

Sua criatividade não encontra fronteiras: ilustrou ainda o livro Odontoeducação, folders-livro e diversos materiais gráficos que circulam em ambientes acadêmicos, culturais e institucionais.

A pluralidade de Flávio Dutka revela um artista inquieto, que transita com facilidade entre a fine art, a ilustração editorial e o design gráfico, sempre com um olhar poético e uma estética marcante. Sua obra, longe de se restringir a galerias, ocupa páginas, capas, sons e espaços públicos, dialogando com diferentes públicos e ampliando o alcance da arte.

A linguagem Dutka seja em tela, papel, mídia digital ou música,  se move com fluidez, sem perder a integridade poética que caracteriza sua arte. Seu traço é múltiplo, mas seu olhar é um só: atento ao humano, à cultura, à narrativa silenciosa que pulsa por trás de cada imagem.

Para quem busca inspiração e um exemplo de trajetória artística multifacetada, a produção de Flávio Dutka é uma referência a ser explorada e celebrada. Dutka não apenas pinta: ele narra, preserva e provoca. Sua arte vive em telas, livros, revistas, CDs e projetos comunitários. Educador e ilustrador, sua voz ecoa muito além das galerias.


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🎥 YouTube: As linhas viscerais de Flávio Dutka

                       Dutka - Preciso falar de arte.

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O Ceifador - Flavio Dutka

 


Flavio Dutka constrói em O Ceifador uma cena que vibra com intensidade visual e simbolismo latente. Com um estilo gestual, entre o expressionismo e a arte popular contemporânea brasileira, essa pintura revela muito mais que um homem com uma foice: ela convoca o mistério do ciclo da vida, o trabalho ancestral e a poesia do corte como metáfora existencial.

O Ceifador (2019)

Aqui, essa  obra conversa com tradições que vão de Van Gogh a Portinari, mas com sotaque brasileiro: a cor intensa, o traço livre e o corpo em ação. É pintura que grita em silêncio — captura o instante do corte, mas também o silêncio que vem depois.

Dutka transita entre o popular e o simbólico, revelando uma poética da ação. O ceifador, de costas ao espectador, de chapéu largo e foice em punho, torna-se um arquétipo: ele não tem rosto porque é todos nós, é o agente invisível do ciclo que começa, termina e recomeça.

O movimento curvo da foice — linha que rasga a tela e reverbera em outras formas sinuosas ao redor — está impregnado de ritmo e intenção. Dutka domina essa linguagem pictórica em muitas de suas obras: o gesto não é apenas formal, mas narrativo. Cada pincelada tem carga emocional e sentido simbólico. Como em outros trabalhos do artista, os fundos não delimitam espaços realistas, mas atmosferas. Aqui, o verde-laranja nos coloca num tempo indefinido — talvez entardecer, talvez auge do verão — onde tudo pulsa e pede corte.

 É possível perceber ecos de artistas como Candido Portinari em seu uso da figura camponesa como ícone nacional, mas também a liberdade gestual do expressionismo europeu, além de traços do muralismo latino-americano, onde o corpo é território.

Elementos visuais e estilísticos

  • Figura principal: O ceifador aparece de costas, vestindo roupa escura e chapéu preto. Seu corpo se inclina para frente em um gesto dinâmico de movimento, com o braço estendido segurando a foice — uma linha curva que rasga o espaço.
  • Paleta de cores: Verde, laranja, preto e toques de vermelho dominam, criando contraste entre a energia da terra e o simbolismo do trabalho.
  • Traços soltos e expressivos: Dutka emprega pinceladas rápidas, quase nervosas, que sugerem ação contínua, reforçando o sentido de corte, urgência e ritmo.
  • Elementos abstratos: Linhas curvas e manchas circulam a cena, dando sensação de vento, poeira ou energia invisível que envolve o ceifador — como se o mundo reagisse ao seu gesto.
  • Espaço pictórico: O fundo não é realista; é uma sugestão de ambiente, com formas e cores que evocam campo e céu, mas sem delimitação formal.

Interpretação simbólica

  • A figura do ceifador é um ícone universal: aquele que colhe, que encerra ciclos, que trabalha com aquilo que a terra dá. É também símbolo da morte — não como fim absoluto, mas como transição e renovação.
  • A foice, curvilínea e proeminente, age como extensão do corpo e da intenção. Não é apenas ferramenta, mas gesto ritual. Ela corta o tempo, delimita fronteiras e transforma o invisível em concreto.
  • O uso do fundo verde-laranja pode remeter ao entardecer do campo, ao calor tropical, ao conflito entre vida e finitude — a pulsação da existência.
  • Ausência de rosto: O fato do ceifador estar de costas e sem traços faciais amplia seu caráter universal. Ele pode ser qualquer um. É o trabalhador, o tempo, o destino.

Dutka compreende a pintura como ação, como semeadura visual. O Ceifador colhe em nome do tempo, mas sua colheita não é só vegetal — é existencial. Ele corta silenciosamente, enquanto o mundo se move em torno do seu gesto. Ao pintar esse homem em movimento, Dutka nos convida a refletir sobre o que deixamos para trás, o que levamos adiante, e o que precisamos ceifar em nós mesmos para que algo novo brote.



O Semeador - Flavio Dutka

 

O semeador (2019)

                                                                              sob o verde que canta vida, o semeador não cultiva apenas plantas —cultiva o futuro em silêncio e a poesia da fé diária.


A figura do semeador, tradicional na arte e na literatura, aparece aqui como símbolo de renovação, esperança e trabalho ligado à terra. Ele representa aquele que planta não apenas sementes físicas, mas também ideias, afetos, valores e culturas. A postura do corpo e o movimento do braço lançando sementes evidenciam uma ação contínua, quase ritualística, carregada de intenção e cuidado. Nesta pintura, Flavio Dutka invoca com vigor poético a figura do semeador — símbolo milenar da esperança e do gesto essencial que antecede o florescimento. 

📌Dutka trabalha com uma paleta vibrante e etérea: O fundo azul-violeta remete ao céu, talvez ao amanhecer ou crepúsculo, sugerindo transição e tempo cíclico.

Os tons verdes do solo indicam vida e crescimento, reforçando a ligação com a natureza fértil.

As manchas coloridas e pontos brancos evocam as sementes e também elementos mágicos ou poéticos — quase como se o semeador lançasse estrelas ou sonhos no campo, numa fusão entre real e imaginário.

O artista mistura técnicas de desenho com pintura, combinando linhas fluidas, manchas aquareladas e salpicos que criam uma sensação de leveza e movimento. A escolha do chapéu grande, da roupa estampada e da ausência de detalhes faciais traz uma anonimidade universal ao personagem: ele pode ser qualquer um, em qualquer lugar — um símbolo humano da perseverança.

Entre o céu e o chão, ele lança sementes como quem espalha estrelas — o semeador de Dutka não apenas cultiva a terra, mas também o futuro.

 O semeador como imagem poética do fazer artístico

A arte, como o ato de semear, é um gesto que lança possibilidades no tempo. O artista é o semeador de imagens, ideias e afetos. Assim como o trabalhador da terra lança sementes na esperança de que algo floresça, o pintor espalha cores e formas em campos invisíveis — confia no olhar do outro como solo fértil.

Na obra de Flávio Dutka, o semeador é mais que uma figura rural: é um arquétipo universal. Ele carrega em si o símbolo do que é plantar o presente com os olhos voltados ao futuro. É corpo em movimento, linha curva que dança com o espaço, um braço que não apenas cultiva, mas cria vínculos entre o humano e o natural, entre o gesto e o mistério.

O fundo azul que se funde ao verde do chão nos lembra que céu e terra não se separam — a criação artística também nasce desse entre-lugar onde o pensamento encontra matéria. E as sementes lançadas pelo personagem podem ser vistas como pontos de luz, fragmentos de sonhos, rastros de uma memória coletiva.

Composição e elementos visuais

  • Figura central: O semeador aparece em gesto dinâmico, espalhando sementes com uma das mãos. Seu corpo está inclinado para frente, revelando ação, entrega e conexão com o solo.
  • Vestuário estampado e chapéu: O traje remete ao campo, mas com padronagem que sugere personalidade ou ritual. O chapéu largo projeta sombra e reforça o vínculo entre homem e terra.
  • Plano de fundo: Tons vibrantes de azul e verde compõem o espaço pictórico, sem delimitação concreta — evocando céu, campo e atmosfera emocional.
  • Sementes em voo: Representadas por pequenos pontos, elas flutuam diante do semeador como promessas de futuro — cada uma uma possibilidade, um gesto de fé.

Interpretação simbólica

  • O semeador como arquétipo: Ele não é apenas um homem do campo — é o humano que planta sonhos, que acredita no invisível e se coloca à mercê do tempo.
  • O gesto de semear: Representa não apenas o ciclo agrícola, mas o ato de criar, ensinar, compartilhar. É uma coreografia ancestral, onde cada movimento está carregado de significado.
  • Cores saturadas: A escolha cromática intensa amplifica a emoção da cena. O azul profundo pode sugerir serenidade, transcendência. O verde sinaliza fertilidade, esperança. É o campo como espaço emocional.

A arte contemporânea, como propõe a estética relacional de Nicolas Bourriaud, valoriza o encontro, a experiência sensível e a poética do cotidiano. Dutka, nesse sentido, nos convida a ver além da superfície, a captar no gesto simples a sua grandeza simbólica.

Esse semeador não está sozinho: cada espectador é também terreno, recebedor e devolvedor de sentidos. Ao contemplarmos a obra, nos tornamos também campo, vento e germinação....





As Canoas de São Carlos - Da série "Um poema para Hokusai" - Flavio Dutka

As canoas de São Carlos - Da série "Um poema para Hokusai"

                                                                       "Assim como Hokusai capturava o Japão com delicadeza, Dutka captura São Carlos com exuberância."


Essa pintura, vibrante e contemplativa, faz parte de uma série que evoca Hokusai — mestre da arte japonesa que celebrava a força da natureza e o cotidiano com sensibilidade poética. Dutka, ao seu modo, homenageia essa tradição com um olhar brasileiro, traduzindo o espírito das águas para o contexto tropical de São Carlos

Temos aqui nessa obra  uma cena vibrante e estilizada de um ambiente ribeirinho amazônico, onde as cores, formas e linhas dialogam entre si num ritmo quase musical. 

Além de  valorizar a cultura ribeirinha brasileira, mostra como o cotidiano das comunidades amazônicas pode ser transformado em arte. Ao unir referências orientais com elementos locais, Dutka propõe um diálogo entre culturas e mostra que a vida simples também é cheia de beleza e poesia.

É uma obra que ensina a olhar com atenção para o entorno, para a natureza e para a importância das raízes culturais. Mais que uma paisagem, é uma homenagem à identidade amazônica.


Cores vivas e contrastantes:

A paleta cromática é intensa, composta por vermelhos, amarelos, azuis, verdes e roxos em tons saturados. Essas cores não apenas chamam a atenção, como também simbolizam a vida pulsante das margens dos rios amazônicos. O céu em azul limpo e o barranco em tons terrosos equilibram a composição.

Os contornos pretos e definidos criam uma estética que remete às xilogravuras japonesas do estilo ukiyo-e, especialmente às de Hokusai — referência explícita da série. A simplificação das formas e o traçado limpo também lembram a arte pop e a pintura modernista brasileira.

Composição e elementos visuais

  • Canoas coloridas repousam sobre a areia, cada uma em um tom distinto (amarelo, vermelho, azul, verde, roxo), criando uma harmonia cromática que remete ao espírito lúdico e à diversidade cultural do Brasil.
  • Formação rochosa ao fundo esculpida com degraus, leva o olhar para cima — como um convite à contemplação, ao ascender da matéria para o espírito.
  • Vegetação no topo da pedra sinaliza resiliência e vida que nasce de lugares inóspitos, outra metáfora recorrente na estética japonesa.
  • Céu azul e água calma sugerem serenidade e reflexão, como as paisagens de Hokusai, onde o tempo parece suspenso.

Interpretação simbólica

  • As canoas, além de instrumento de transporte, representam aqui uma travessia poética. Paradas, elas não avançam — talvez uma pausa, uma espera ou uma recordação do movimento.
  • Os degraus na rocha evocam o esforço humano para atingir o alto, talvez espiritual. É como se cada passo esculpido fosse uma tentativa de alcançar algo além.
  • A paleta saturada e quente, típica da arte brasileira contemporânea, dialoga com a natureza vibrante do país, contrastando com a contenção emocional típica de paisagens orientais. Essa fusão cria uma estética híbrida: homenagem e reinvenção.

A cena é dividida em planos bem definidos:

Primeiro plano: as canoas coloridas que dominam a parte inferior da tela.

Plano intermediário: um barranco rochoso com vegetação e degraus talhados na pedra, revelando o uso cotidiano da paisagem.

Plano de fundo: o rio largo e calmo, com margens verdes e um céu de azul profundo, que transmite tranquilidade.

As canoas em diferentes posições criam um movimento visual que conduz o olhar do observador da base da imagem até o horizonte, gerando uma sensação de profundidade dinâmica, apesar da bidimensionalidade aparente.

Podemos dizer que a presença das canoas — símbolo da vida ribeirinha — celebra o cotidiano das populações do interior do Amazonas. As cores podem simbolizar a diversidade cultural, a alegria e a resistência desses povos.

Conexão com Hokusai:

Assim como o artista japonês retratava a vida comum com poesia visual, aqui o pintor transforma uma paisagem simples em uma cena repleta de lirismo e intensidade visual. A série parece querer fazer uma ponte entre a arte oriental e o imaginário amazônico, mostrando que a beleza da natureza e da vida cotidiana pode ser universal.

Natureza e cultura entrelaçadas:

O contraste entre a solidez da pedra, a fluidez do rio e as canoas humanas representa a interação constante entre o homem e a natureza, tema central na estética oriental e também nas vivências amazônicas.

"Canoas coloridas repousam à beira do tempo, entre a rocha firme e o rio que passa. Em São Carlos, o poema não está escrito — ele navega.


 

Autorretrato - Flavio Dutka



Esta pintura de Flavio Dutka é um retrato que transita entre o figurativo e o expressionista, marcada por cores intensas e distorções propositalmente exageradas que enfatizam o estado emocional da figura retratada. A obra apresenta um homem sentado, aparentemente em um momento de introspecção ou apatia, com o rosto apoiado na mão e olhar distante.

A perspectiva da cena é propositalmente inclinada e desconfortável, gerando uma sensação de confinamento ou desequilíbrio. O espaço parece fechado e apertado, o que potencializa o sentimento de clausura interior — possivelmente uma metáfora para o estado emocional do personagem.

As cores vibrantes (como o rosa intenso à esquerda) contrastam com o marrom e o vermelho mais terrosos do restante da cena. Isso pode indicar uma tensão interna: a aparência externa viva esconde um sentimento mais sombrio, introspectivo ou monótono. O fundo rosa-amarelo dá um clima surreal ou emocional, desviando de realismo e puxando para o subjetivo.


O homem, de traços quase caricaturais, apresenta um corpo anguloso e expressão facial que mistura cansaço e melancolia. A escolha por pintar o rosto com sombras fortes e contrastantes cria um efeito dramático que reforça a interiorização dos sentimentos. A característica mais marcante do rosto é o proeminente bigode e possivelmente uma mancha vermelha ao redor da área da boca, o que cria uma aparência um tanto angustiada ou até mesmo de palhaço, embora sem a conotação alegre. Seus olhos parecem escuros e possivelmente sombreados, contribuindo para o humor pensativo.

A figura está posicionada ligeiramente fora do centro para a direita, criando um equilíbrio interessante com as grandes áreas de cor à esquerda. A pose transmite uma sensação de introspecção ou cansaço. A mão apoiando o queixo é um gesto clássico de pensamento ou tristeza.

O ambiente remete a um espaço doméstico simples, com uma cama ou poltrona e elementos como chinelo e um boné ou chapéu. Esses objetos cotidianos criam um contraste entre a banalidade do espaço e a intensidade psicológica da figura retratada. 

A pintura parece ser estilizada em vez de estritamente realista. As linhas são um tanto ousadas, e as cores são usadas tanto para impacto emocional quanto para representação literal. A renderização do rosto, particularmente a área da boca, inclina-se para o expressionismo.

Uma obra visualmente marcante que usa cores ousadas e pinceladas expressivas para transmitir uma sensação de profundo pensamento ou emoção. Combina representação figurativa com elementos abstratos, convidando o espectador a refletir sobre o mundo interior do artista.

Há ecos de Francis Bacon na maneira como o corpo é tratado — com deformações emocionais — e de David Hockney na manipulação das cores e dos planos arquitetônicos. A obra também flerta com o realismo mágico, dando à cena cotidiana um tom quase onírico.

Ou seja,
🖌️ Entre paredes inclinadas e silêncios profundos, ele repousa. O corpo está ali, mas os pensamentos vagam longe. Na curva da cor e no desvio do olhar, Flavio Dutka nos lembra que a solidão também tem forma, cor e lugar.


 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

A Esperança - Flavio Dutka

 

                                     A Esperança - Flavio Dutka (2019)

Entre verdes profundos e flores silenciosas, ela balança — leve
como a esperança, firme como quem acredita no amanhã.
(Flávio Dutka nos lembra que há beleza no gesto simples de esperar.)

A obra "A Esperança", de Flávio Dutka, é uma pintura que evoca fortemente o universo simbólico e emocional, por meio de uma cena envolta em mistério, lirismo e natureza abundante, o que  revela o talento do artista plástico  para compor cenários que misturam o real com o imaginário.

Ao centro da composição, vemos uma figura etérea, translúcida, balançando-se em um ambiente mágico. A figura, que pode ser interpretada como feminina e infantil, é quase fantasmal — composta por linhas brancas e translúcidas que fluem como um vestido ou véu, dando a ideia de leveza, espiritualidade e movimento.

Ela balança-se sobre um tapete verdejante, repleto de flores brancas, como se estivesse suspensa em um sonho ou em um momento de profunda contemplação

O verde é a cor predominante — símbolo de vida, natureza e, como o título sugere, esperança. Os tons variam entre claros e escuros, com sobreposições que criam profundidade e a impressão de uma floresta mágica ou um jardim encantado. Os brancos usados tanto nas flores quanto na figura criam um contraste que remete à pureza, ao espiritual e ao sagrado.

A técnica parece envolver aquarela ou tinta fluida com trabalho em camadas e detalhes em tinta branca opaca, que realçam texturas florais e efeitos de luz. Mas é claro que o  uso de pinceladas soltas e texturas impressionistas criam esse movimento e suavidade. Influências impressionistas são evidentes na aplicação da tinta e na escolha vibrante das cores. A fusão entre figura e paisagem pode remeter a temas como pertencimento, efemeridade e comunhão com o ambiente.

O ato de balançar-se pode ser associado também à liberdade, infância e tempo suspenso — como se o futuro estivesse sendo gestado naquele momento de calma e introspecção.

A figura parece se fundir com a natureza, o que pode sugerir uma conexão espiritual com o mundo natural ou até mesmo uma memória, um espírito ou um ser onírico.

O título “A Esperança” dialoga com essa atmosfera — indicando que, mesmo diante de um mundo denso, há uma luz suave e persistente que conduz a alma - algo sempre presente na obra de Dutka que é fascinante a um olhar mais atento.

Flavio Dutka nos faz um  convite à reflexão sobre a força interior da esperança, mesmo nos momentos de incerteza. O balançar suave entre as flores pode representar o equilíbrio delicado entre o presente e os sonhos. A figura branca — quase translúcida — talvez simbolize a fé, a resiliência emocional, ou até o espírito da infância que resiste ao tempo.

Uma dica: Mergulhem na obra de Dutka! Ele  tem uma forma única de conectar arte, memória e natureza — é como caminhar por uma trilha sensível  entre o visível e o invisível.


O Desjejum de H.Matisse - Flavio Dutka

 Onde o dia desperta em silêncio e cor…


O Desjejum de H.Matisse - Flavio Dutka (Tela 16x24 - tinta acrilica e marcador sobre tela)


                                                                     No desjejum de Matisse, não há pão nem café — há cor que transborda as bordas, cipós que dançam entre janelas 
e flores que nos lembram que a beleza nunca se prende. 
É o caos organizado do olhar que ainda sonha.


Inspirada no universo cromático de Henri Matisse, a obra 'Desjejum de H. Matisse' propõe uma experiência visual intensa, onde formas orgânicas rompem estruturas e sugerem liberdade criativa. Uma composição que celebra a arte como alimento sensível do olhar e da alma.

A tela “Desjejum de H. Matisse” de Flavio Dutka evoca um diálogo visual com o universo estético de Henri Matisse, reinterpretado com ousadia contemporânea. A composição é vibrante, complexa e fragmentada, como se estivesse contida entre janelas ou vitrines de um jardim imaginário.

🔍 Numa análise visual temos:

1. Cores e emoções:

O fundo vermelho intenso remete diretamente à paleta emocional de Matisse, conhecida por sua intensidade e calor. Aqui, ele serve de palco dramático para os elementos sobrepostos.

Tons fluorescentes e contrastantes — como o verde-água, lilás, roxo e amarelo-limão — dançam sobre o vermelho, criando uma energia pulsante.

2. Composição e formas:

A tela é marcada por linhas retas amarelas que lembram molduras ou janelas, fragmentando a cena e trazendo à mente a ideia de observação ou de compartimentos da memória visual.

As formas curvas e orgânicas — ramos, cipós, flores — remetem ao mundo natural, mas estilizadas em linguagem gráfica quase abstrata. Elas invadem os limites das “janelas”, rompendo a contenção, talvez sugerindo a força incontrolável da natureza ou da criatividade.

3. Movimento:

Há uma cadência rítmica nas linhas sinuosas dos cipós e na dispersão das bolhas florais rosadas. O olhar do observador é conduzido de forma espiralada, como se estivesse sendo levado por uma brisa tropical através de uma mata onírica.

4. Influência matissiana:

A tela ecoa os recortes ("gouaches découpés") de Matisse, especialmente de sua fase final, quando ele explorava formas recortadas e cores chapadas com liberdade expressiva.

O título “Desjejum de H. Matisse” pode ser uma referência à forma como Matisse alimentava o espírito pela arte e cor, ou ainda uma brincadeira visual com a série de interiores domésticos e cenas de café da manhã presentes na obra do mestre francês.

Interpretação simbólica
Essa obra pode ser lida como um “banquete matinal” para os sentidos — uma explosão de cor e forma que celebra a alegria de viver, uma das marcas de Matisse. Mas também há um sutil tom de desorganização e excesso que sugere o mundo atual: superconectado, caótico, onde a beleza precisa ser buscada entre os ruídos.

As linhas amarelas estruturam, mas não dominam. A natureza ainda brota entre as grades. O "desjejum" aqui talvez seja metafórico: alimentar-se da liberdade da arte, do poder das cores e da indisciplina poética da natureza.

Como é típico do Fauvismo, movimento do qual Matisse foi um dos líderes, as cores são intensas, não realistas, e usadas para transmitir emoção.As figuras e objetos  representados por Dutka tem contornos suaves e estilizados, priorizando a harmonia visual em vez da precisão anatômica.A disposição dos elementos transmite serenidade, reforçando a ideia de que o desjejum é um ritual de reconexão com o corpo e o dia que começa. Matisse frequentemente dissolvia a separação entre fundo e figura, criando uma unidade visual que sugere integração entre o ser humano e seu ambiente.

Henri Matisse acreditava que a arte deveria ser uma fonte de prazer e tranquilidade. Ele dizia que queria criar uma arte “como um bom poltrona onde se repousa de uma fadiga física”. “O Desjejum” obra de Flavio Dutka se encaixa perfeitamente nessa filosofia, oferecendo ao espectador uma pausa contemplativa.

Na pintura de Flávio Dutka, o café da manhã é mais que refeição — é um momento sagrado, onde objetos falam, gestos respiram e o tempo repousa. Aqui, o cotidiano vira poesia visual.
 
Quem é Flávio Dutka?  artista plástico e visual com uma trajetória marcada pela sensibilidade, criatividade e compromisso com a educação. Paranaense de nascimento e rondoniano de coração, Dutka é formado em História pela UNIR e há mais de 16 anos atua como educador em comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira.Um artista versátil,com várias exposições pelo  Brasil e no exterior,entre as quais, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, na Finlândia e Milão(Itália) e várias pela região norte,especialmente em Porto Velho.

sábado, 12 de julho de 2025

Da série "Metamorfose" - Flavio Dutka



   Técnica mista sobre tela 24 x 34cm - DUTKA.Flavio
        

Das entranhas da lagarta à dança da borboleta: essa pintura nos lembra que toda transformação exige tempo, camadas e delicadeza. A natureza não tem pressa, mas cumpre sua jornada com beleza e precisão.


Nessa obra da série "Metamorfose", Flavio Dutka aprofunda a linguagem visual e simbólica, reafirmando a relação entre natureza, transformação e o gesto artístico. 

A obra convida à contemplação do tempo e do processo de transformação. As figuras, embora minuciosas, não estão congeladas, mas parecem flutuar, sugerindo movimento e continuidade. Ao misturar ciência (com desenhos precisos de insetos) com arte (formas abstratas e decorativas), a pintura faz uma ponte entre razão e sensibilidade — entre o que é observado e o que é sentido

A composição mantém a estética vibrante e detalhista da série, mas foca especialmente na metamorfose dos insetos e suas fases, como se narrasse um ciclo de vida. Elementos botânicos, insetos em diferentes estágios (lagarta, borboleta, libélula) e grafismos são costurados por linhas caligráficas e molduras decorativas.

A paleta de cores gira em torno de tons quentes (amarelo, laranja, vermelho) mesclados com verdes, azuis e pretos. O contraste entre a borboleta vermelha e a azul dá um equilíbrio visual forte.

Por outro lado, o uso de linhas pretas finas para desenhar insetos e plantas dá um ar de estudo científico ou botânico, quase como ilustrações de um diário de campo.

As faixas azul-turquesa com arabescos criam uma sensação de estrutura, como se fosse uma vitrine ou compartimento, que organiza o caos natural.  A lagarta, a crisálida e a borboleta (em vermelho e depois azul escuro) fazem alusão direta à transformação, renascimento ou amadurecimento.

🌿 Simbologia Possível

Metamorfose: O ciclo de vida de uma borboleta simboliza mudança, renovação, crescimento interior.

Insetos e plantas: Remetem à conexão entre o efêmero e o eterno, ao trabalho delicado da natureza.

Linhas caligráficas e formas ornamentais: Representam o humano tentando compreender ou classificar esse mundo em transformação constante.

Quem é Flavio Dutka? Artista plástico, professor e historiador brasileiro, natural do Estado do Paraná e radicado em Porto Velho, Rondônia. Sua produção artística é marcada pelo uso de técnicas mistas — incluindo acrílica, spray, nanquim, pastel seco e marcador — e pela representação sensível de temas locais, como paisagens ribeirinhas, fauna, flora e memórias culturais da Amazônia. Dutka é reconhecido por sua capacidade de mesclar estética e consciência socioambiental, criando composições que evocam tanto beleza quanto reflexão

As obras de Flavio Dutka são como janelas poéticas abertas para o cotidiano — ele transforma o simples em simbólico, e o regional em universal. Cada pincelada carrega emoção, memória e identidade, como se o tempo parasse por um instante para contemplar a alma da paisagem brasileira.Seu trabalho é um convite ao olhar sensível e consciente sobre a Amazônia, revelando beleza, identidade e resistência em cada traço.