sábado, 18 de agosto de 2012

Almoço na Relva (1863) - Édouard Manet

Almoço na Relva , 1863, Manet. Óleo sobre tela, 214 X 270 cm. Museu do Louvre, Paris, França.


Édouard Manet (Paris, 23 de janeiro de 1832, Paris — 30 de abril de 1883, Paris) foi um pintor e artista gráfico francês e uma das figuras mais importantes da arte do século XIX. Pertencia a uma família rica da burguesia parisiense. Seu realismo não tinha intensões sociais: ao contrário, chegava a ser aristocrático. Sua carreira foi marcada por alguns desafios aos críticos conservadores. O maior deles aconteceu em 1863, com a tela “Almoço na relva”(acima) que, na época causou grande escândalo por representar uma mulher nua em companhia de dois homens elegantemente vestido.

A pintura acima teve como nome original  Le Déjeneur sur l´Herbe. Foi apresentado publicamente no Salão dos Independentes, realizado em Paris em 1863, e o seu título inicial era Le Bain (O Banho).Causou certo escândalo na época por trazer uma mulher nua entre dois homens vestidos. Suzanne Leenhoff (sua mulher) e Victorine Meurent (sua modelo preferida) posaram para a composição da mulher nua, sendo o corpo de Suzanne e o rosto de Victorine.O quadro foi considerado uma "imoralidade, um atentado ao pudor".Os críticos não pouparam críticas, chegando a dizer que Manet devia aprender a desenhar.

Mas analisando o quadro  num primeiro plano (canto inferior esquerdo) vemos uma natureza morta de cores fortes definida como as roupas da mulher nua,seguida dos três personagens sentados ( a mulher nua e os dois homens vestidos); ao fundo uma mulher se banha no riacho. 

Nass primeiras pinturas, Manet,  abandonou o método tradicional de sombras suaves em favor de contrastes fortes e duros, causando um clamor de protestos entre os artistas conservadores. Em 1863, os pintores acadêmicos recusaram-se a exibir as obras de Manet na exposição oficial – o Salon. Segue-se uma onda de agitação que levou as autoridades a expor todas as obras condenadas pelo júri numa mostra especial que recebeu o nome de ‘Salon dos Recusados’. O público afluiu principalmente para rir dos pobres e desiludidos principiantes que se haviam recusado a aceitar o veredito dos seus superiores."Manet pintava diretamente ao ar livre, observando cuidadosamente os efeitos que a luz produzia sobre os objetos e sobre os espaços, transmitidos através de requintados e afirmados contrastes de claro escuro, de cores vivas e de pinceladas rápidas e espontâneas. Esta exaltação dos valores cromática e lumínica transforma o quadro numa obra pioneira e revolucionária, prenunciadora dos princípios estéticos do movimento impressionista.Esta pintura acabaria por ser exposta no Museu do Louvre, em Paris."

 Não podemos deixar de perceber que o francês Édouard Manet (1832-1883) foi um nome fundamental do período, fazendo a ponte do realismo e do naturalismo para um novo tipo de pintura que levará ao impressionismo. Ele retratava a realidade urbana sem muito da carga ideológica do realismo. Influenciou os impressionistas, assim como foi por eles influenciado.

 Veja mais sobre Manet nos videos abaixo:




Fonte: Wikipedia, Livro Literatura e Arte (Nicolla) e Infopedia

terça-feira, 17 de julho de 2012

Os camponeses comendo batatas - Van Gogh - 1855

Vincent Van Gogh - Os camponeses comendo batatas - óleo em tela (1855) - 82 cm × 114 cm     
"Os Camponeses comendo batatas (Aardappeleters em neerlandês) é um quadro do pintor Vincent van Gogh, terminado em abril de 1885.
Este quadro pertence à primeira fase da pintura do artista, desenvolvida nos Países Baixos, sob influência do realista francês Millet. Van Gogh fez releituras de Millet, e também estudou desenho, anatomia e perspectiva em Bruxelas, complementando sua formação com leituras sobre o uso e o comportamento das cores.Nessa época, desenhou e pintou muitas paisagens neerlandesas, cenas de aldeia.

 Em Nuenen, pequena cidade neerlandesa onde morava sua família, realizou cerca de 250 desenhos, principalmente sobre a vida de camponeses e tecelões. Os Comedores de Batata resume esse período. Assim como os pintores realistas, ele falou sobre a miséria e retratou a desesperança dessa gente humilde. Ele dizia que os camponeses deviam ser pintados com suas características rudes, sem embelezamento, ponto em que criticou e se diferenciou de Millet.

Van Gogh salientou os traços grosseiros das mãos e das faces dos trabalhadores da terra. Em busca de intensidade dramática, explorou a potencialidade expressiva dos tons escuros, da luminosidade barroca e do pincel nervoso. Tais características seriam transformadas radicalmente a partir de sua ida a Paris, no mesmo ano.Ele viveu lá por alguns anos. " (Fonte: Wikipédia )

Leia mais sobre Van Gogh   A  Q  U  I  e veja os videos abaixo:

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Os Construtores (1950) - Fernand Léger

Os Construtores - 1950 (óleo sobre tela)

      








Fernand Léger (1881-1955) antes de se tornar pintor era arquiteto e no ano de 1900 se mudou para Paris e lá passou a trabalhar como desenhista de arquiteturas.Mundialmente reconhecido como um dos mestres do século XX, Fernand Léger foi um dos mais destacados cubistas e o primeiro a experimentar a abstração.
 
"A enorme dimensão deste edifício foi astuciosamente representada através da técnica do corte da imagem, em cima e em baixo, de forma a parecer prolongar-se indefinidamente em ambas as direções. Acentuadas linhas verticais e horizontais demarcam os contornos das formas estruturais contra o céu azul, realizadas em intensas cores primárias, havendo aqui alguma evidência e influência do Cubismo.Os enormes trabalhadores que se assemelham a robôs, movimentando-se sobre as vigas, e as nuvens que passam, contrastam dramaticamente em forma e em cor com o esqueleto metálico do edifício em construção.(
 
Braços e pernas tubulares, como calhas ou chaminés. Rostos inexpressivos, não mais que um esquema de olhos, boca e nariz. Dos pintores do começo do século 20, Fernand Léger (1881-1955) foi provavelmente um dos que mais incorporaram em seus quadros a estética da vida industrial, a rudeza do trabalho mecânico, a textura das máquinas e dos materiais de construção. (Fonte: Blog Artemísia está viva)

 
LÉGER criou, a partir do Cubismo Sintético, uma linguagem pictórica que, segundo ele esperava, levaria a arte ao mundo do trabalho e do lazer do proletariado.
Formas vigorosas e claramente definidas, sugerindo máquinas, são apresentadas em cores enérgicas que dão uma nota de alegria e otimismo a um mundo mais habitualmente associado à fumaça e graxas. Assim, LÉGER não representa as misérias da classe trabalhadora, mas usa sua arte para celebrar o mundo do trabalho viril e vigoroso.

 Na opinião do crítico e historiador Giulio Carlo Argan, Léger "foi um admirador da pureza e simplicidade das imagens de Rousseau; foi um dos primeiros a se associar, em 1910, à pesquisa cubista; é, e se mantém por toda a vida, um homem do povo, um trabalhador que acredita cegamente na ideologia socialista, a qual ingenuamente associa ao mito do progresso industrial. Para ele, os objetos simbólico-emblemáticos da civilização moderna são as engrenagens, as tubagens, as máquinas, os operários da fábrica: sua finalidade é decorar, isto é, qualificar figurativamente o ambiente da vida com os símbolos do trabalho da mesma maneira que, antigamente, decorava-se a igreja com os símbolos da fé".


Fernand Léger explica que arquitetura se compõe de superfícies vivas e de superfícies mortas.
As superfícies mortas – parede nua – são as reservas de repouso e não se deve nelas tocar. Já as superfícies vivas – superfícies coloridas – devem ser postas à disposição da forma, do pintor e do escultor.

As cores: azul, verde, amarelo e vermelho, eram as preferidas, em tons fortes, retratavam as tensões do cenário da época.

Veja mais sobre a obra:

 

sábado, 16 de junho de 2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Mamoeiro (1925) - Tarsila do Amaral

O mamoeiro (1925) - Tarsila do Amaral

O mamoeiro (1925),  Tarsila retrata a paisagem brasileira com intenso colorido.

"Esta obra mostra o início da ocupação dos morros das grandes cidades. A simplificação e estilização das formas promovem certa relação com o cubismo.
Mostrando a vida simples, o dia a dia das pessoas ( roupas no varal), vizinhas que se visitam, mãe com filhos. É importante refletir sobre a mudança de hábitos das pessoas a partir da grande concentração de pessoas que hoje habitam os morros. Frutas e plantas tropicais são estilizadas geometricamente.

 Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco. Este grupo foi o mais importante da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística "Pau-Brasil", dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais"(mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana. A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.

Tarsila do Amaral foi à representante do movimento Pau-Brasil que, subdividido nas fases construtivo, exótico e metafísico, representa o cúmulo da brasilidade, traduzida não somente em seus temas humanos e nacionais, como também nas cores vivas até então rejeitadas por uma academia retrógrada e passadista.
Seus tons, de intensidade e força absurdas, são reminiscências de infância da pintora nascida em Capivari, interior de São Paulo. Desde então, Tarsila adota de forma quase que rebelde e contestadora cada colorido excessivo para, assim, melhor representar um país-aquarela."

"O Mamoeiro   pertence à Fase Pau-Brasil. Nessa fase as pinturas de Tarsila exaltavam a natureza tropical, valorizavam a brasilidade, os tipos humanos como os caboclos e os negros, e a tranqüilidade das pequenas cidades" (.Fonte:http://fotolog.terra.com.br/mev:16 )
 Nesta fase a influência da escola cubista é marcante ,mas a diferença entre Tarsila e os outros pintores da época  reside no fato de que ela representa a temática de nosso país com cores fortes - ditas caipiras - que seus professores diziam ser de mau gosto desaconselhando-a a utilizá-las m sua obra. 


Saiba mais sobre Tarsila no vídeo abaixo:


sábado, 12 de maio de 2012

Perfume de Inverno - Adelina Jacob (2011)

Perfume de Inverno - Adelina Jacob (2011)
 Adelina Jacob formada em Letras ,pós graduada em Liguíistica e Literatura Brasileira e Artista Plástica contemporânea vem despontando no cenário nacional com suas xilogravuras e aquarelas participando de bienais e exposições no Brasil,bem como na Itália e neste mês na Irlanda do Norte em exposição esta que mostra obras de artistas de todo o mundo no Waterfront Hall de Belfast ( Reino Unido ) aberta em 03/05/2012 estendendo-se até 30 de maio.

 A Xilogravura é a arte de gravar em madeira. Primeiro o artista esculpe na madeira o que deseja desenhar, depois através das etapas a seguir se conclui o trabalho. Primeiro se faz a Matriz -  taco de madeira gravado com instrumentos de corte;em seguida a Entintagem - a tinta é colocada na área que não foi encavada através de um rolo e, depois disso a Impressão- transporte da imagem para o papel através de pressão a mão ou no prelo, ele imprime no papel o desenho feito.

Sua gravura acima  é resultado de pesquisas no campo dos perfumes e flores que vem fazendo há muito tempo." “ Perfume de Inverno” é uma xilogravura com técnica apurada , sua composição primorosa juntamente com a escolha das cores, devidamente estudadas e testadas definem a delicadeza do seu trabalho. Além de mostrar uma composição madura e equilibrada."(Beto Bertagna)

A gravura é uma técnica exigente, tanto na execução quanto na criação, pois ela pede disciplina e paciência. O resultado é a própria gravura que dita.Adelina Jacob foi uma das representantes do Estado de Rondônia na  5ª Bienal Nacional de Gravura OLHO LATINO , em maio de 2011.Foram selecionadas 243 obras de 147 artistas de várias regiões do país e,entre elas a de Adelina Jacob do Estado de Rondônia.
Detalhes importantes que fazem toda diferença na Xilogravura é o fato de que a área que é escavada na madeira é aquela que não receberá tinta e a imagem será impressa de forma espelhada. É importante gravar as letras ao contrário.Após feita a gravação da imagem passa-se uma camada de tinta na qual  é necessário utilizar um rolinho de borracha.É um trabalho que exige concentração,delicadeza e talento, coisa que não falta à alma sensível de Adelina Jacob em seus trabalhos xilográficos e nas suas aquarelas. Geralmente as xilogravuras eram usadas nas capas de cordel do Nordeste embora ainda naquela época fossem apenas arabescos usados nas pequenas tipografias nordestinas.Na atualidade vários são os xilógrafos de cordel que se destacam. O pesquisador Joseph M. Luyten, no ensaio "A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções", enumera os seguintes xilógrafos: Abraão Batista (Juazeiro); Ciro Fernandes (Rio de Janeiro); José Costa Leite (Condado); Marcelo Alves Soares (São Paulo); Minelvino Francisco Silva (Itabuna); Severino Gonçalves de Oliveira (Recife) e podemos acrescentar a esses grandes nomes Adelina Jacob (Porto Velho) que vem se destacando com um trabalho de sutileza ímpar, diferente dos grandes cordelistas mas com personalidade própria.

Vea alguns trabalhos de Aquarelas de Adelina Jacob   A Q U I

domingo, 15 de abril de 2012

O Enterro do Conde de Orgaz - El Greco -1586/88

O Enterro do Conde de Orgaz (El entierro del Señor de Orgaz)
El Greco, 1588 - óleo sobre tela 480cem x 360cm

*wikipedia

"Primeiramente vamos entender quem foi o Conde de Orgaz:  Gonzalo Ruiz de Toledo era Senhor de Orgaz (e não conde, pois a vila de Orgaz não foi condado até 1522) foi um homem piedoso e benefeitor da paróquia de Santo Tomé, sendo a igreja reedificada e ampliada em 1300 .Ao falecer a 9 de dezembro de 1323 (outras fontes em 1312) deixou em seu seu testamento uma exigência que deviam cumprir os vizinhos da vila de Orgaz:
Cquote1.svg pague-se cada ano para o cura, ministros e pobres da paróquia 2 carneiros, 8 pares de galinhas, 2 odres de vinho, 2 cargas de lenha, e 800 maravedis Cquote2.svg
Passados mais de 200 anos, em 1564, o pároco da igreja de Santo Tomé, Andrés Núñez de Madrid, advertiu o descumprimento por parte dos habitantes da localidade toledana a continuarem entregando os bens estipulados no testamento do seu Senhor e reclamou frente da chancelaria de Valladolid.Ganhou o pleito, em 1569, e recebeu o retido (soma considerável pelos muitos anos não pagos) e quis perpetuar para as gerações vindouras o conde, Senhor da vila de Orgaz encomendando o epitáfio em latim que se encontra aos pés do quadro, na que além do pleito empreendido pelo pároco relata o acontecimento prodigioso que aconteceu durante o enterro do Senhor de Orgaz, dois séculos antes.


Para presidir a capela mortuária do Senhor de Orgaz, D. Andrés Núñez de Madrid, encarregou o trabalho a um pintor freguês, que naquele tempo vivia, de aluguel, a poucos metros dali, nas casas do Marquês de Villena.
A 15 de março de 1586 assinou-se o acordo entre o pároco, o seu mordomo e El Greco no que se fixava de jeito preciso a iconografia da zona inferior da tela, que seria de grandes proporções. Pontualizava-se da seguinte maneira :
"...na tela tem-se de pintar uma procissão, (e) como o cura e os outros clérigos que estavam fazendo os ofícios para enterrar a D. Gonzalo Ruiz de Toledo senhor da Vila de Orgaz, e baixaram Santo Agostinho e Santo Estevão para enterrarem o corpo deste cavaleiro, um segurando-o da cabeça e o outro dos pés, deitando-o na sepultura, e fingindo ao redor muitas pessoas que estava olhando e em cima de tudo isto tem-se de fazer um céu aberto de glória ..."
.
Portanto observando a tela acima vemos na parte inferior na tela o centro  ocupado pelo cadáver do senhor Orgaz , que vem a  ser depositado com toda veneração e respeito no seu sepulcro. Para tão solene ocasião baixaram os santos do céu : o bispo Santo Agostinho, um dos grandes pais da Igreja, e o diácono Santo Estevão (post abaixo - já interpretado), primeiro mártir de Cristo.

Na parte superior, o pintor descreve o céu, a vida feliz dos bem-aventurados. Aparece Jesus Cristo glorioso, luminoso, vestido de branco, entronizado como juiz de vivos e mortos, com misericórdia, como o amostra o seu rosto sereno e a sua mão direita que manda no apóstolo Pedro, que abra as portas do céu para a alma do conde defunto.

 Na parte inferior ( no detalhe abaixo) , encontramos a cena do enterro. O luto e a seriedade nos semblantes destaca-se acima de tudo. Todos os lábios estão selados. Contrasta o tropel com o que se situam as personagens, com a ordem da parte superior. Alguns rostos não estão completos. Podemos distinguir entre as personagens em primeira fileira e a própria de cavaleiros num posterior plano.

  Observe os personagens na cena acima:

  • A criança (canto inferior esquerdo): El Greco retratou o seu filho no´“O Enterro”, vestiu-o de traje de gala.Mas a criança parece  não seguir a cerimônia com a atenção dos adultos . Pelo que parece, o jogo da criança é reparar sobre a flor da dalmática de Santo Estevão e assinalar-no-la apontando o dedo. Do seu bolso sai um papel no que se lê “Domenico Theotocopúli 1578”.
  • Santo Estevão (canto inferior esquerdo ao lado do menino). Ajuda levar  o Senhor de Orgaz ao sepúcro - à nossa esquerda. É o primeiro mártir da Igreja. Representado por um jovem com túnica  diaconal na qual leva bordada a cena do seu próprio martírio, fazendo contraste com as pretas vestiduras dos cavaleiros. Na sua vestimenta  El Greco representa a cena do próprio martírio de Santo Estevão.
  • O Senhor de Orgaz. Gonzalo Ruiz de Toledo nasceu nesta cidade em meados do século XIII, foi senhor da vila de Orgaz, prefeito de Toledo e notório maior do rei Dom Sancho o Bravo. É representado com a sua armadura de aço brunido; figura no lugar central inferior do quadro. Vai ser depositado no sepulcro. Sua alma aparece no quadro como se fosse um suspiro introduzido no céu por um canal de nuvens. Cabe destacar-se as ricas adornos pintados sobre a armadura. Aqui El Greco prescindiu de sobriedade.
  • Santo Agostinho ( à nossa direita) : É um dos Padres da Igreja. Vestido , neste caso, com rica roupagem litúrgica de bispo bordada em ouro, tocado com mitra, também bordada. Na iconografia católica é fácil reconhecer a Santo Agostinho, como ancião, com a sua barba, o seu báculo –que nesta ocasião não leva- e a sua capa. A riqueza da sua capa permite observar que o pintor retratou –de  cima para baixo- a são Paulo, Santiago Maior e santa Catarina de Alexandria. É demonstrado que o rosto de Santo Agostinho corresponde ao do Cardeal Quiroga.
  • Cura com roquete (de veste branca): De costas não leva em conta o próprio enterro, contemplando –sem dúvida- como a alma se introduz no céu. Também não é o sacerdote que celebra o enterro. Acredita-se que fosse Pedro Ruiz Durón, ecônomo da paróquia.
  • Cura que celebra o responso (à direita com o livro na mão): Figura revestido como tal, com capa pluvial negra com dourados. Na capa observa-se um retrato de São Tomé com esquadra de carpinteiro, uma caveira negra. Sem dúvida, deve representar Dom Andrés Núñez de Madrid, o pároco de Santo Tomé que encarrega a obra a El Greco.
  • Personagem que porta a cruz processional. Parece que o rosto corresponde com o beneficiado da paróquia de Santo Tomé Rodrigo de la Fuente.
  • AGORA OBERVE A PARTE CELESTIAL - ALTO DO QUADRO

Na parte superior persiste a necessária seriedade do momento, rodeados de nublado. Corresponde à construção imaginativa de poetas e artistas. As formas características de El Greco acentuam a beleza do ultraterreno; o tom frio e ao mesmo tempo intenso e deslumbrante da cor e a iluminação sublinham a pertença a outro âmbito.
  • Anjo central: Na parte central do quadro aparece o anjo que “se faz cargo” de alma do Senhor de Orgaz (no alto - lado esquerdo), e segurando-a a introduz, entre nuvens, na presença celestial. A alma é representada como uma crisálida, com a forma de criança.
  • Jesus Cristo: No lugar com mais luz do quadro. Aparece de forma gloriosa, vestido de branco, como juiz de vivos e mortos, como ordenando a São Pedro (em amarelo com as chaves) que abra as portas do céu.
  • A Virgem: Seu gesto é como de acolher maternalmente o Senhor de Orgaz que chega ao céu.
  • Os bem-aventurados da parte direita. Olham para Jesus Cristo. Aparece o apóstolo Paulo (de cor  violeta), Santiago Maior, São Tomé – titular da igreja e com a esquadra, a verde e amarelo-. Na fila que começa S. Tomé, encerra-a Filipe II (que na ápoca não falecera ainda e ao que se quis mostrar como uma falta de ressentimento do pintor pelo monarca que o desdenhara). 
  • Grupo tênue.: Sob os bem-aventurados, há um trio de tênues figuras(canto superior direito), formado por um homem nu e duas mulheres, uma das quais é Maria Madalena, pelo seu frasco de perfume, a outra mulher poderia ser, em boa lógica, Marta. E o homem, seguindo com o tema, Lázaro. Outros falam desta personagem como o de S. Sebastião.
  • São Pedro. À esquerda, de amarelo e com as inequívocas chaves na sua mão.
  • Os personagens da parte esquerda. Somam-se à contemplação os principais personagens do Antigo Testamento : O rei David, com a sua harpa; Moisés, com as tábuas da lei e Noé, com a arca.
  • Anjo jogando à direita. Sem querer olhar para baixo.
  • Almas de crianças à esquerda
 O quadro representa as duas dimensões da existência humana : embaixo a morte, em cima o céu, a vida eterna. El Greco plasmou no quadro o horizonte da vida frente da morte, iluminado por Jesus Cristo.

No detalhe o rosto de Orgaz

 Entre o céu e a terra, o laço de união é a alma imortal do senhor de Orgaz, figurada como um feto que é levado para o céu por mãos de um anjo, através de uma espécie de vulva materna que dará à luz a vida eterna do céu. A morte aparece bem como um parto para a luz eterna na qual vivem os santos. Transe doloroso, mas cheio de esperança.


A mãe de Jesus Cristo, a Virgem Maria, acolhe maternalmente a alma do senhor que chega até o céu. Neste parto à vida eterna, Deus confiou a Maria a tarefa de mãe.Os bem-aventurados olham fascinados e adorantes para Jesus Cristo.




O conjunto do quadro convida à contemplação do mistério da morte. E até mesmo quando tem de traspassar o limiar da morte, não o faz em solitário, mas junto a ele para lhe ajudar está Jesus Cristo, redentor do homem, a sua Mãe, e todos os santos do céu. "






sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Martírio de santo Estêvão - Rembrandt - 1625

Rembrandt  - O Martírio de Santo Estêvão .1625

 Rembrandt Harmenszoon Van Rijn foi um importante pintor e gravador holandês. É considerado um dos mais importantes pintores do barroco europeu. Nasceu em 15 de julho de 1606 na cidade de Leiden e faleceu em Amsterdam em 4 de outubro de 1669.

Rembrandt usava  variadas temáticas em suas gravuras como cenas bíblicas, mitologia, paisagens, nus, retratos e outras mais, idem às suas pinturas; embora os auto-retratos sejam mais comuns neste tipo de arte. A fase onde realizou a maior quantidade de gravuras iniciou-se em 1636 e durou cerca de 20 anos. Muitas delas permanecem até hoje, algumas sendo encontradas no Museu Rembrandt, em Amsterdã. Gravuras estas que percorrem o mundo em exposições temporárias, a fim de que outros possam apreiar as obras do grande mestre.

Rembrandt  pintou  seu primeiro quadro -    O Martírio de Estêvão -  aos 19 anos , o que sem dúvida  é um dos episódios mais tristes relatados na Bíblia. Um homem inocente é levado a julgamento devido a falsas acusações. Recebe a oportunidade de fazer uma breve defesa e é imediatamente executado por apedrejamento. A história torna-se ainda mais triste ao lermos na Palavra de Deus que Estêvão era um “homem cheio da graça e do poder de Deus, [quel realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo” (Atos 6:8). Estêvão era o tipo de pessoa benquista na sociedade, mas teve a infelicidade — ou felicidade para alguns — de viver num período de grande revolta. A repercussão da morte de Jesus estava apenas começando a ser sentida. Os judeus estavam determinados a eliminar todos os membros da “seita” que cria em Cristo e em Sua ressurreição. Estêvão fazia parte desse grupo e fazia questão de não esconder sua crença.Deus concedeu a Estêvão uma visão em que contemplou Jesus à direita do Pai, cheio de vida e de poder real. A visão confortou o humilde servo de Deus na hora em que mais precisou. A ressurreição não era mais uma verdade abstrata que ouvira, mas tornou-se um fato. Estêvão foi capaz de suportar o momento de maior dor de sua vida porque contemplou o Salvador.

 Observe que a luz incide em cheio em Santo Estevão e nos homens que o estão apedrejando, ressaltando assim as suas expressões, mostrando todos os sentimentos e reações ocorridas na cena, destacam-se como é habitual nesta época, as anatomias escultóricas e os seus músculos em tensão. O movimento e o dramatismo da cena, são sem lugar de duvidas elementos de estilo barroco Estêvão era judeu da diáspora e morava em Jerusalém. Fazia parte dos sete diáconos que haviam sido encarregados pelos Apóstolos de assistirem os necessitados da comunidade. Seu nome em grego significa “coroa”, e evoca a idéia de martírio, porque nos séculos a seguir a coroa foi símbolo do martírio. Sua paixão é de fundamental importância porque não tem nada de fabuloso ou lendário.  

O   martírio deu-se fora da porta de Damasco , ao norte da cidade de Jerusalém  , ao lado de uma estrada onde surge agora precisamente a Igreja de Saint-Étienne ao lado da famosa École Biblique dos Dominicanos.  Era um lugar aberto, circular, em cujo centro se achava uma pedra, sobre a qual se ajoelhou o santo moço, rezando, com as mãos erguidas. Vestia uma longa veste , arregaçada, sobre a qual pendia, no peito e nas costas, uma espécie de escapulário, com duas fitas transversais; creio que era uma parte das vestes sacerdotais. Procederam no apedrejamento em certa ordem; em volta do lugar haviam juntado pedras, ao pé de cada um dos apedrejadores.


 Santo Estêvão foi o primeiro mártir do Cristianismo, sendo considerado santo por algumas das denominações cristãs (católica, ortodoxa e a anglicana). É celebrado em 26 de Dezembro no Ocidente e em 27 de Dezembro no Oriente por tais denominações. Ele também está listado entre os Setenta Discípulos.
A história de Estêvão diz-nos muitas coisas. Por exemplo, ensina-nos que nunca se deve separar o compromisso social da caridade do anúncio corajoso da fé. Era um dos sete encarregados sobretudo da caridade. Mas não era possível separar caridade e anúncio. Assim, com a caridade, anuncia Cristo crucificado, até ao ponto de aceitar também o martírio. Esta é a primeira lição que podemos aprender da figura de Santo Estêvão: caridade e anúncio caminham sempre juntos.
Sobretudo, Santo Estêvão fala-nos de Cristo, do Cristo crucificado e ressuscitado como centro da história e da nossa vida. Podemos compreender que a Cruz permanece sempre central na vida da Igreja e também na nossa vida pessoal. Na história da Igreja nunca faltarão a paixão, a perseguição. E precisamente a perseguição torna-se, segundo a célebre frase de Tertuliano, fonte de missão para os novos cristãos. Cito as suas palavras: “Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: o sangue dos cristãos é semente” (Apologetico 50, 13: Plures efficimur quoties metimur a vobis: semen est sanguis christianorum). Mas também na nossa vida a cruz, que jamais faltará, se torna bênção. E aceitando a cruz, sabendo que ela se torna e é bênção, aprendemos a alegria do cristão também nos momentos de dificuldade.

 O valor do testemunho é insubstituível, porque a ela conduz o Evangelho e dela se alimenta a Igreja. Santo Estêvão ensina-nos a valorizar esta lição, ensina-nos a amar a Cruz, porque ela é o caminho pelo qual Cristo vem sempre de novo entre nós.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

La tempestad (1508) - Giorgione. H.

Giorgione: La tempestad
Hacia 1505. 82 x 73 cm. Oleo sobre lienzo.
Gallerie dell'Accademia, Venecia. .


"Giorgione (Castelfranco Veneto , c. 1477 — Veneza, fins de 1510) como é conhecido Giorgio Barbarelli da Castelfranco, foi um pintor do Renascimento na Itália. Por ter morrido com apenas 33 anos, deixou uma obra pequena em quantidade, mas de alta qualidade e grande influência em seu tempo.

A Tempestade vem sendo chamada de a primeira paisagem com figuras da arte ocidental. Embora a intenção desta obra seja desconhecida, a maestria do autor é evidente.À  direita vê-se uma  mulher  vestida apenas com uma túnica branca, um símbolo de pureza possível, amamentando seu bebê. Ela está nua, exceto pela túnica em branco sobre os ombros .Por sua barriga redonda e o fato de estar amamentando pode simbolizar a fertilidade ou a maternidade. Alguns críticos, no entanto, acreditam que representa a caridade enquanto outros veem a Virgem Maria com a criança.

À esquerda um Homem que os  teóricos não concordam, mas parece ser um soldado (embora sua equipe indica um pastor), que poderia simbolizar a força, relacionando bem com as colunas.Ele permanece na posição de contrapposto clássica esquerda. Sorri e olha para a direita, parece ver a mulher.

Os historiadores da arte identificaram o homem com um soldado, um pastor ou um cigano. Raios-X revelaram que em vez de o homem, originalmente Giorgione pintou um outro nu feminino. Para alguns, ela representa a força ou coragem. Eles apontam para as colunas atrás do homem. As colunas normalmente simbolizam força e firmeza. Embora neste caso, quebradas, seria um sinal clássico de morte.


 Paisagem: A paisagem não é apenas um pano de fundo.  É a  verdadeira estrela da cena. Giorgione fez esboços preliminares, mas diretamente pintado. A luz e a cor da chegada da tempestade, depois que você vê relâmpagos no céu, é o verdadeiro sujeito da pintura. Eles dizem que a paisagem poderia representar Arcadia, na periferia de uma cidade.A cena é completada por um córrego, árvores e ruínas. As nuvens escuras do céu iluminado por um clarão de relâmpago, anunciando a tempestade iminente.As cores são suaves e iluminação suave. Dominado por cores frias como azuis e verdes. Ao centro uma ponte sobre um rio de águas escuras,algo comum nas casas de campos.


A representação hipnótica da tempestade iminente age como um símbolo do poder da natureza. Somente pintores britânicos do século XIX conseguiram  capturar a emoção do tempo, que, juntamente com as ruínas, são elementos puramente românticas.

Há algumas cegonhas no telhado da direita. Cegonhas, por vezes, representam o amor entre pais e filhos.

Neste quadro, como em outros de Giorgione, a natureza e a história estão intimamente ligadas , as pessoas e coisas envolvidas no mesmo sentido estão em condições de igualdade.

Segundo  Alvarez Lopera ( J., b ., cit., p. 143-145) "A Tempestade resume toda a tecla" giorgionismo. "É um quadro que mostra um profundo senso de mistério.uma pequena ponte nas águas escuras perto de uma cidade explode em tons brilhantes sob um céu ameaçador cuja nuvens são divididos pelo brilho de um relâmpago. Nenhum traço de mal-estar nos personagens e seu isolamento, além disso, não é quebrado pela proximidade: eles vivem suas próprias emoções no seio da natureza, apesar dos sinais, favores e envolvido em uma atmosfera de sonho onde não há espaço para o drama. A falta de reação para o desencadeamento das forças da natureza nega o efeito do imediatismo da vida, causando uma sensação de eternidade que nos leva para os domínios da fábula.Giorgionesca revolução, baseada principalmente na abertura de novas áreas temáticas, mitologia, fábula, história, e como eles foram abordados (com um espírito contemplativo cheio de lirismo, devaneio e um senso de natureza perto panteísmo), foi também extremamente profundo a partir do ponto de vista técnico. Para caracterizar a novidade Giorgione Vasari relata que suas pinturas eram realizadas diretamente, sem desenhos ou esboços preliminares."

http://arte.observatorio.info/2007/10/la-tempestad-giorgione-h-1508/
http://www.escreveretriste.com/2012/05/a-tempestade-2/. 
           Google.com


Entenda melhor a obra assistindo o vídeo no link abaixo:


http://www.youtube.com/watch?v=ZF5einuU60Q&feature=channel






terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Solidão" e "O Negociante de gado" - Marc Chagall

Solidão - Marc Chagall

 Fonte: Maria Luiza Calim de Carvalho Costa UNESP/Bauru ( MARC CHAGALL E SERGIO SANT`ANNA NAILUSTRAÇÃO DE DARCY PENTEADO)e Carmen Lúcia Fornari Diez (THEODOR ADORNO E MARC CHAGALL:
estéticas de manifesto como confinium de resistência)
"Marc Chagall nasceu em 1887, na cidade de Vitebsk, na Rússia. Seu nome verdadeiro era Moshe Segall, mais tarde adotou o nome artístico de Marc Chagall e assim ficou conhecido no mundo das artes plásticas.
 Marc Chagall  espelha em suas obras os acontecimentos de sua infância. Esse universo figurativo de Chagall está implantado nas tradições de sua origem, no pensamento anti-racional da Rússia e na rigorosa ausência da arte figurativa no judaísmo. “Neste sentido, os cenários de Chagall nunca estão isolados de um mundo de idéias místicas, o qual transforma, antes de tudo,os motivos em símbolos, em representantes de uma realidade invisível” (WALTHER&METZGER,1994,p.24).

Um dos seus quadros mais conhecidos traz o título Solidão. Nesse quadro, Chagall retratou uma vaquinha tranqüila, deitada junto a um violino, casas russas em um plano de fundo e uma enorme figura de um judeu em primeiro plano. O judeu se apresenta como uma pessoa melancólica, pensativa, segurando um rolo de Torá, o livro sagrado dos judeus. Complementando a cena, vemos um anjo voando. Anjos são imagens recorrentes nos quadros de Chagall. A vaca, de acordo com WALTHER (1994) simboliza o povo de Israel, “...correspondendo às palavras do Profeta Oséias: «Sim, Israel é teimoso como uma vaca» Ambos simbolizam o povo de Chagall, o povo na diáspora, tal qual revela o ambiente russo. O homem tornou-se Asevero, o judeu errante, que vagueia por esse mundo infinito sem saber qual será seu futuro.”(p.60)



Óleo intitulado «O Negociante de Gado»
(1912)
Aqui aparece  em cena a simplicidade harmônica da vida campesina. “Metáforas de tranqüilidade dominam cenas rústicas: o potro protegido na barriga da égua, ainda por nascer, o cordeiro às costas da mulher, citando o motivo do Bom Pastor, a ponte que o carro atravessa calmamente”(WALTHER&METZGER,1994,p.27). A impressão geral da tela transmite uma descontração, que de certo modo, desvia a atenção de que o negociante dos animais os venderá, supostamente, a um matadouro. Apesar dessa impressão geral de tranqüilidade, observando-se mais atentamente a composição, percebe-se uma tensão quanto à direção: a carroça vai da esquerda para direita, em contraposição o homem, o gado sobre a carroça, a camponesa e a mulher que abraça o soldado, olham para a esquerda criando uma força contrária ao movimento da carroça. Nota-se que o cordeiro sobre os ombros da camponesa volta sua cabeça para a face da camponesa, impedindo,assim, que o olho do observador se evada do quadro pela esquerda. Abaixo  das patas do cavalo encontra-se um soldado sendo enlaçado por um braço de uma mulher como se estivesse se despedindo. As feições do soldado e da mulher inspiram tristeza. Está construída a metáfora do soldado que, como um gado ao matadouro, vai à guerra. A metáfora desconstrói a suposta cena ingênua campestre e traz a baila a denúncia das tristezas de uma guerra. A égua prenha alude à orfandade que uma guerra proporciona. A tensão, então, é representada à esquerda através da vida boa do campo que se deixa para traz e, à direita a direção do matadouro, da guerra, da morte. As rodas da carroça, que levam, inevitavelmente, o gado para o seu destino, pode-se interpretar como a roda da vida, que gira incessantemente num nascer, viver , morrer e nascer...



A queda de um Anjo - 1947

 “A Queda do Anjo”, iniciada em 1923 e terminada em 1947 realiza a síntese da trajetória artística do pintor e da queda do Reich. Este, representado no anjo vermelho que cai, não sem antes mutilar o menorah, signo de Israel. A única vela que restou, dentre sete, permaneceu acesa, indicando a resistência judaica, tema que continuará integrando os trabalhos posteriores do artista, com tonalidades menos torturadas, mas sempre presentes, mesmo quando retomou a mitologia grega com “A Queda de Ícaro”(1975) ou com “Orfeu”(1977).

 No primeiro momento tem-se a impressão de uma imagem caótica, com muitos elementos aparentemente desconectados uns dos outros. O título da obra oferece a primeira ancoragem para a leitura: A queda do anjo vermelho, enunciada em uma grande diagonal formada pelas asas, mas também, perpendicular às asas, pelo corpo do anjo.

Numa asa do anjo encontra-se Nossa Senhora com o Menino, ao lado dela um castiçal com uma vela e o Cristo Crucificado, são os motivos ligados à salvação. Na outra asa, um relógio, seria a tirania do tempo que a todos foi inferido através da origem do mal. A contagem do tempo supõe um fim: a morte; o relógio seria, então a representação da hora da morte. Nota-se que este anjo não é assexuado! Pelos seios e quadril percebe-se uma mulher.

 No canto inferior esquerdo do quadro está o judeu segurando o rolo das escrituras, alusão à passagem bíblica que a obra retrata. Entre o anjo e o judeu forma-se uma faixa diagonal, onde estão inseridos alguns elementos: Um homem com uma bengala, uma lua cheia, um violino e um animal, supostamente um cavalo.

 No âmbito da arte contemporânea, marcada pelo formalismo e a abstração, a pintura de Chagall se destaca pela importância que tem nela o elemento temático, de fundo onírico, que, por sua vez, reflete as profundas raízes afetivas e culturais do artista. Sua obra, moderna, assimilou todas as conquistas formais da arte contemporânea." (Fonte: Maria Luiza Calim de Carvalho Costa (UNESP/Bauru) e Carmen Lúcia Fornari Diez nas pesquisas no começo linkadas)